Alan Max

on terça-feira, 19 de junho de 2018

IMIGRAÇÃO JAPONESA NO BRASIL


Salve, salve, amigos amantes da Cultura Pop Japonesa! Nave nerd baixando no seu computador (ou Smartphone) novamente para trazer, não apenas entretenimento, mas também cultura (sim, senhor, não somos apenas rostinhos bonitos, somos uma galerinha com conteúdo, diga-se de passagem, rsrsrsrsrsrsrs...).

Pessoal, hoje estou aqui para tratar de um assunto que, apenas pela significação histórica, já dispensaria qualquer tipo de apresentação. É absolutamente incrível como a cultura japonesa reflete em nosso país de forma tão perceptível e como somos contagiados por ela quase que por osmose. 

Talvez eu seja um pouco suspeito para falar, já que sou eu quem sempre traz novidades sobre cultura japonesa contemporânea aqui na página, mas preciso admitir que tudo que venho postando, na verdade é apenas a ponta do iceberg. Já se passaram 110 anos e essa galerinha de olho puxado e rosto arredondado (com o devido respeito e sem bullying...) ainda influencia grandemente a cultura geral brasileira seja através dos diversos tipos de arte ou mesmo dos próprios costumes pertinentes as suas raízes. 

COMO TUDO COMEÇOU

Embora alguns dados históricos indiquem que a imigração de asiáticos (sim, não apenas japoneses, mas chineses e outros, oriundos do mesmo continente...) já acontecia antes desse período, oficialmente a imigração japonesa é comemorada no dia 18 de junho de 1908, quando o navio Kasato Maru (originalmente Kazan, pois era de origem russa) desembarcou no Porto de Santos, trazendo o primeiro grupo oficial de japoneses ao Brasil. 


Na verdade, o que a parte “bonitinha” da história nos conta é que o Japão na época passava por um árduo período de recessão econômica, ao passo que nosso país, não mais possuindo mão de obra escrava (o que também era, relativamente, uma realidade muito recente) precisava de trabalhadores para as lavouras, principalmente as de café, principal movimentador da economia na época. 

Porém, por trás dessa suposta “troca de favores” há de se considerar o fato de que os senhores de engenho que haviam perdido seus escravos para a lei Áurea, não estavam acostumados com a nova realidade de assalariar pessoas dignamente em troca de trabalho. Tanto que, um pouco antes dos imigrantes japoneses, o governo brasileiro tentou suprir a necessidade dos cafeicultores brasileiros trazendo imigrantes europeus para o Brasil, porém, as péssimas condições de trabalho e de vida oferecidas pelos patrões fizeram com que a liderança de alguns desses países (como França e Itália, por exemplo) impedissem a emigração para o Brasil. Foi então que surgiria a ideia de trazer imigrantes oriundos da Ásia. 

Porém, a ideia de se trocar imigrantes de um continente por imigrantes de outro parece muito cômoda e fácil, não acham? Mas infelizmente o fato de a Ásia ter sido escolhida também esconde um fato obscuro: O povo asiático era considerado tão “obediente” e subalterno quanto o povo africano recém liberto da escravidão, e ainda por cima, havia muito preconceito dos brancos cristãos contra raças consideradas por eles como “inferiores”. O povo asiático chegou a ser conhecido como os “negros amarelos”, e por mais absurdo que possa parecer para nós nos dias de hoje, até mesmo jornais de nome na época, como o Correio Paulistano, em 1892, publicavam artigos em tom de depreciação e jocosidade, usando expressões tais como “Se a escória da Europa não nos convém, menos nos convirá a da China e Japão”, ou mesmo “o chim é bom, obediente, ganha muito pouco, trabalha muito, apanha quando é necessário, e quando tem saudades da pátria enforca-se ou vai embora”.


Mas mesmo com toda esta antipatia brasileira para com os povos asiáticos na época, a necessidade por mão de obra fez com que os fazendeiros se tornassem mais maleáveis com aqueles que seriam seus futuros contratados. Desta forma, a partir de 1895, Brasil e Japão assinariam um tratado que buscava uma relação diplomática entre os dois países, abrindo assim as negociações para vinda de imigrantes japoneses, mesmo contrariando a opinião pública brasileira.

Mas um fato interessante a se considerar é que, mesmo com toda essa rejeição por parte dos brasileiros, os japoneses entenderam a possibilidade de emigração como algo positivo. Simplesmente pelo fato de que, durante muito tempo o Japão esteve isolado do resto do mundo, e seu controle político estava sob o comando dos Xóguns, da família dos Tokugawa. Até a primeira metade do século XIX o país ainda era uma sociedade com características feudais e por muito tempo estagnado num sistema agrário, dependente quase que exclusivamente da cultura do arroz. Dessa forma, a partir de 1854, os navios americanos e ingleses exigindo à força a abertura dos portos japoneses, o já enfraquecido governo dos Xóguns se vê obrigado a ceder privilégios comerciais aos estrangeiros, gerando uma crise interna, e mais tarde ocasionando uma guerra civil. Com o fim da guerra, já em 1868, os vitoriosos exigiam a restauração do poder ao imperador, defendendo a modernização do país nos moldes ocidentais, dando início ao período conhecido como Era Meiji (1868-1912).

Talvez após ter lido tudo isso, você possa se perguntar em que isso tudo contribui para entendermos a importância da imigração japonesa para o Brasil. Mas creio que para lhe responder este questionamento não seja preciso grande esforço. Apesar de ser um povo com características muito tradicionais ou mesmo que possua costumes que em alguns momentos nos pareçam estranhos, não há como negar que o povo japonês é um povo bastante obstinado e trabalhador. Que acima de tudo faz questão de manter suas raízes e manter valores tradicionais como o fortalecimento da família e respeito aos mais experientes e anciãos. A intenção em ressaltar essas qualidades não traz de minha parte nenhuma intenção em levantar bandeira política ou ideológica de nada, mas apenas tentar demonstrar como um país de dimensões geográficas tão pequenas pôde se transformar numa potência mundial em tão pouco tempo, nos dando vários exemplos de como sua capacidade de organização aliados ao interesse por transformação são extremamente eficazes na manutenção de uma identidade própria ao longo dos anos, sem esquecer-se das raízes de onde vieram.

E na minha modesta opinião, tudo isso se reflete também na forma como os japas encaram a vida aqui em terra brasilis, seja de forma mais modesta, com o japa da pastelaria ou da lavanderia, ou mesmo em alcances dimensionais maiores, como o Bairro da Liberdade, em São Paulo. E logicamente que, se você se auto-intitula um nerd de verdade, não vai poder negar nunca a importância dos Mangás, séries e conteúdo informativo e de entretenimento vindo da terra do sol nascente que nos influenciaram e ainda influenciam até hoje. 

Vida longa aos japas! Salve a imigração japonesa! E sorte a nossa de termos esbarrado numa cultura tão rica proveitosa como a deles. Grande abraço e até a próxima.